domingo, 27 de janeiro de 2008


SENTIMENTO NORDESTINO
Se é dia de chuva
E de chuva o céu se molha
Então eu olho a terra umedecida
Cheirando, cheiro de vida
Agora tépida e morna.
A atmosfera lavada
E as gotas de chuva descendo
Parece cortina alada
Pelas rajadas de vento...
Ouço essa música doce
Que soa no ar quando chove
Lembro os semblantes
Dos quase retirantes
Se enchendo de esperança
Quem dera fosse lá
Que esse som de alegria
Se ouvisse
Então não veria a nossa gente
De face enrugada e triste
Comendo o pó da estrada
Pra buscar em outras plagas
Terra boa pra semente
Ah! Se os filhos da terra
De povo pobre e nobre
Honrassem a sua gente
No planalto central
Haveria mais alegria
Menos dores
Porque para falta de chuva
O homem já inventou cura
Mas ainda não criou
O remédio que cura
Ausência de honra e desamor

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008


(Imagem: Navio Negreiro-Rugendas)

Ventos Negros

Um globo inclinado

Num eixo imaginário

Se equilibra

Águas profundas, mares,

Ligam o mundo.

Pelos ventos

Navios criaram destinos

E em suas rotas-águas

Ligaram vidas

Para uns a saída

Para outros, naufrágio.

Negros suores

Deixaram o mar mais salgado

E seus sorrisos se apagaram de banzo

Mãe África impotente

Não os podia ouvir

Porque as correntes

Abafavam os seus prantos...

Ao longe depois

Os tambores soavam

Pra levar suas vozes mais além

E ao morrer de dores e maus tratos

Via-se um brilho nos olhos

Um sorriso nos lábios

Ali encontravam o portal

De enfim à terra volver

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Terna e Delicadamente




Orgulho não crê

Que pode haver algo mais.

Vaidade não vê

A cegueira apraz.

Oh! Deuses profanos

Porque fizestes

Dos humanos

Só noite, só cais?

Ouvem-se vozes

Nos altiplanos

Que a simplicidade

Modela.

Doces vozes

Vozes belas

Discretamente

Sussurrando...

Perdestes os ouvidos

Dos simples

Caíste no limbo

Nivelado

Nada como as dores

Futuras

Pra lembrarem erros

Passados

O amor ama a modéstia

Não acica desatinos

O amor é um menino

Que sopra as velas da festa

Não espalha desavença

Não se alegra em intriga

Não cede a provocações

Mesquinhas

Não odeia

Não joga

Não briga

Só é luz e alegria

E quando não pode plantar

Roseiras em algum lugar

Deixa vir a primavera

Num sopro de luz e de cor

Para então florir o amor

E espalhar a semente

Terna e delicadamente